Os Pobres e a Democracia Brasileira
A democracia brasileira, mais do que a expressão da vontade do eleitorado, parece justificar-se em si mesma. Distorção compreensível pelo fato de assentar-se no binômio pobreza e desigualdade e que tende a ser potencializada pelo consequente desequilíbrio de ordem política. Tendo em vista os preceitos fundamentais do regime democrático, de igualdade e liberdade, fica patente que há dificuldades na conformação da democracia brasileira, nas vias através das quais chega-se às coligações eleitorais e governamentais, assim como no que é realizado por esses grupamentos alçados e mantidos no poder. O reconhecimento da existência da democracia no Brasil, com aspectos procedimentais já rotinizados: eleições regulares, liberdade de imprensa, sistema partidário cristalizado não pode deter-se em tais aspectos. Se o regime democrático parte da pobreza e da desigualdade existentes e nas decisões tomadas, em seu funcionamento, fortalece a ambas, entenderão os pobres brasileiros, que a democracia ou o autoritarismo são escolhas indiferentes? Justifica-se, portanto, a pesquisa enquanto prospecção dos rumos da democracia brasileira a partir da visão que dela têm os setores pobres: sentem-se parte da mesma e objeto das ações respectivas ou alheados do regime democrático, quando não negativamente impactados, de modo contínuo, pelo mesmo? Também a dimensão valorativa, foco da análise, vem se mostrando relevante num número crescente de estudos e análises, no Brasil e internacionalmente. Por último, a percepção específica dos segmentos pobres quanto à democracia embute-se de especial relevância, num país em que a pobreza e a desigualdade mantêm-se expressivas, determinando qualquer reflexão sobre o alcance e a solidez de nosso regime democrático. Como objetivo tem-se, assim, identificar e analisar aspectos da percepção de democracia pelos pobres, no Brasil, no período recente. Serão utilizados dados secundários de institutos de pesquisa e efetuados testes de correlação, com o propósito de ratificar ou negar a ideia de que os contingentes brasileiros pobres podem vir a se posicionar diante do regime democrático, de modo específico, devido à posição singular que ocupam na pirâmide social brasileira cujo acesso ao bem-estar é tão diverso.