Dos movimentos estudantis a formação da Frente Ampla no Chile: uma esperança a crise da democracia liberal?

A eleição de 2017 para presidente no Chile, foi um evento surpreendente no cenário da política internacional. Até poucos dias antes do início da votação, as pesquisas apontavam um quadro amplamente favorável ao conservador Sebastián Piñera. A surpresa foi, que apesar do cenário apontado pelas pesquisas, Sebastián só alcançou pouco mais de um terço dos votos válidos, em uma disputa marcada pela alta abstenção. Em segundo lugar ficou Alejandro Guillier, candidato da centro-esquerda. E logo atrás, veio Beatriz Sánchez, da nova coalizão formada, a Frente Ampla com 20 % dos votos, quando as pesquisas indicavam apenas 8%. Apesar da Frente Ampla não ter ido para o segundo turno por apenas 2% nas eleições presidenciais, a coalizão conseguiu eleger 20 parlamentares, sendo 13 ex-líderes estudantis e 1 senador, o que a torna a terceira maior força parlamentar do Chile para os próximos anos. A maior renovação política desde a redemocratização marca um novo ciclo na política chilena. Produto dos movimentos estudantis de 2011, a Frente Ampla surgiu como coalizão em 2013, formada por treze partidos diferentes, dentre eles os que se formaram a partir do movimento estudantil. O crescimento da Frente Ampla como força política, representa a situação atual de um Chile marcado pela predominância do bipartidarismo entre grupos que dominam o cenário político. A polarização entre duas coalizões partidárias, uma de direita e outra de centro-esquerda, já demonstra sinais de esgotamento perante a representatividade nos diferentes segmentos sociais da população. O elemento unificador, foi por um lado, a janela de oportunidade política que significa a crise do pacto de transição pós ditadura de Pinochet. É nesse contexto, que surge a motivação em compreender de que forma os partidos recrutam a elite política, a formam em seu interior e promovem sua ascensão ao sistema parlamentar para realizar a representação orgânica dos diversos grupos sociais. A partir da análise da formação da Frente Ampla, o artigo busca entender o que esse fenômeno representa no cenário político atual chileno, e se a coalizão pode ser uma alternativa ao modelo tradicional de partidos no futuro.

sofia simaan valle /UFRJ