De volta às origens: mapeando os caminhos da interseccionalidade
O conceito de interseccionalidade tem ganhado cada vez mais destaque nas teorias e movimentos feministas contemporâneos. No entanto, a ideia de que diversos eixos de opressão, como gênero, raça e classe, marcam as experiências de vida das mulheres não é novidade. Teóricas e militantes feministas há bastante tempo têm criticado a pretensa universalidade contida no sujeito “mulher”, demonstrando que existem outras formas de opressão além da masculina, como o racismo e o classismo. A novidade, na verdade, está no fato de que apenas recentemente, a partir do conceito de interseccionalidade, essas preocupações ganharam um guarda-chuva teórico comum, inclusive com a criação de cursos e disciplinas específicas. A literatura sobre interseccionalidade é vasta e heterogênea. Neste trabalho, será apresentada uma narrativa que pretende acompanhar a produção do campo e seus principais conflitos e convergências a partir de teóricas estadunidenses e brasileiras. O trabalho será dividido em três partes. Em primeiro lugar, será apresentado o movimento denominado “Black feminism” que teve origem nos EUA e sua influência sobre a obra de teóricas como Angela Davis e bell hooks, autoras pioneiras do feminismo negro estadunidense. Em seguida, será apresentado o debate sobre o feminismo negro no caso brasileiro, a partir do resgate do pensamento de Lélia Gonzalez, teórica feminista que foi pioneira em nosso país ao apontar as especificidades das opressões vividas pelas mulheres negras. Logo após, abordaremos o conceito de interseccionalidade da forma como tem sido formulado contemporaneamente por teóricas feministas e os principais embates teóricos e políticos contidos nessa agenda de pesquisa. Por fim, serão apresentadas algumas breves conclusões sobre os desafios que a interseccionalidade nos coloca enquanto campo teórico e prática política.