A quarta onda feminista: interseccional, digital e coletiva
No Brasil e em outros países a história do movimento feminista é contada em ondas. É possível pensar nas “ondas” como ciclos de protestos, associadas ao contexto político, social e histórico mais amplo. Em linhas gerais, a primeira “onda” feminista é identificada com a luta pelo sufrágio feminino, que no Brasil aconteceu entre fins do século XIX e início do XX. Já o início da segunda onda brasileira remete a meados da década de 1970, perdurando até a década de 1980, com mulheres militando nos espaços acadêmicos, nos movimentos populares urbanos e nos partidos políticos, em geral por mais serviços, infraestrutura urbana, creches e pela democratização. A partir da década de 1990, novas configurações têm lugar nos movimentos feministas, que produzem uma nova geração de militantes, treinadas técnica e academicamente. Estas irão participar tanto de mecanismos de políticas para mulheres, quanto de ONGs profissionalizadas com financiamento nacional e internacional. Esse movimento vem sendo denominado como a terceira onda feminista no Brasil. Argumenta-se neste artigo que os movimentos feministas brasileiros contemporâneos passam, no momento atual, por uma quarta onda, caracterizada pela: mobilização via meios de comunicação digitais, diversidade de feminismos e adoção da interseccionalidade e, por último, mobilização em forma de coletivos (organizações fluidas e discursivamente distantes das organizações tradicionais). Para demonstrar tais características, primeiramente foi feita uma sistematização da produção acadêmica sobre a quarta onda feminista. No plano empírico foram entrevistadas ativistas de cinco coletivos feministas brasileiros e coletadas informações de páginas de coletivos feministas cadastrados no facebook. A reflexão aqui apresentada aponta como a quarta onda feminista no Brasil poder ser definida como digital, interseccional, fluida e plural.