Direita e estratégias de ativismo no Brasil contemporâneo

Atualmente, o quadro do ativismo político no Brasil conta com a participação dinâmica de movimentos sociais conservadores e de direita. Há pouco mais de um lustro, esse tipo de participação era percebida como minoritária ou pouco consolidada. Este trabalho traz uma apresentação parcial da pesquisa sobre formas de ativismo da direita no Brasil entre os anos 2013 e 2016. Tomamos por objeto um grupo, o Movimento Brasil Livre, e uma frente política, a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos. Dada perspectiva teórica adotada, a atenção aos grupos de direita implica em considerar sua dinâmica posicional no quadro de forças políticas em disputa, ou seja, ter em vista quem são os oponentes do confronto político e como a interação entre os atores molda as estratégias de litígio. Dessa forma, nossa visada busca dar conta da dimensão tático-estratégica dos grupos estudados, o que nos faz priorizar a metodologia de análise do discurso, cotejando aspectos performáticos e ideário político expressos por cada grupo em contextos circunscritos. Argumentamos que o movimento conservador contemporâneo se apresenta com variadas vestes e não gravita apenas em torno de uma plataforma econômica, religiosa ou moral, como é de praxe classificá-lo. No que diz respeito à plasticidade e estratégia do movimento, enxergamos uma repartição em ao menos duas grandes alas : 1) um conservadorismo ‘versátil’, que se apresenta como liberal nos costumes e na economia, guarda uma moralidade mais adaptável, é atento ao termômetro de cada conjuntura e dotado de um acurado senso de oportunidade que lhe confere capacidade adaptativa, valendo-se de formas de ativismo inovativas e performances arrojadas, tendendo a recrutar os atores políticos mais voláteis; 2) um conservadorismo ‘cardinal’, mais explícito, apresenta poucas oscilações ao longo dos séculos e se faz mais resiliente às marés de temperamento de cada tempo. Essa ala não transige em atrelar mecanismos de difusão de seu ideário (preocupação cultural) a orientações de política econômica e guarda uma preocupação moral mais inflexível e pouca renovação discursiva.

Ellen ELSIE NASCIMENTO /Universidade de São Paulo