A América do Sul progressista: fim de um ciclo ou processo aberto?
As sucessivas ditaduras que marcaram os anos 1980 – conhecida como a “década perdida”- deixaram um legado de atraso e exclusão social na América do Sul. O fim do século passado e o início do século XXI trouxeram mudanças de grande proporção, com os sucessivos governos progressistas que encabeçaram projetos políticos diferentes em cada país, porém convergentes na estratégia democrática de promover a inclusão social, reduzir a pobreza e fomentar um desenvolvimento mais equitativo. Estes governos progressistas alcançaram marcas históricas importantes: mais de 60 milhões de sul-americanos saíram da condição de pobreza extrema, por exemplo. Em outro plano, o discurso da integração regional avançou rumo à uma maior integração política, favorecendo a paz e as iniciativas de cooperação sul-sul entre os vários países do continente e do Sul Global. Neste contexto, outro legado importante remete à participação da sociedade civil nas políticas de Estado em diversos fóruns de discussão onde tampouco havia espaço no passado, como nas pautas de política externa e segurança. Entre avanços e retrocessos, sucessos e fracassos, atualmente a América do Sul assiste a uma ofensiva conservadora que ameaça desacreditar as forças sociais e políticas que promoveram essas reformas estruturais profundas nos últimos anos. Os fatores que intervém neste cenário são diversos e pouco regulares. Além disso, a América do Sul sofre com um déficit histórico de análises, estudos e acompanhamento da conjuntura na região. A necessidade de avançar na direção de projetos emancipatórios mais duradouros e de conter a ofensiva conservadora depende dessas análises e, evidentemente, dos impulsos das atuais lutas sociais em curso na região. Este trabalho reúne e apresenta variáveis importantes entre o passado e a presente situação política sul-americana, com o objetivo de traçar uma linha de análise entre o fim de um ciclo histórico da esquerda no continente ou um processo aberto em construção. Por fim, abre-se um campo de reflexão sobre partidos políticos, poder judiciário e sociedade civil, com cada vez mais importância teórica e prática na construção do futuro que se projeta para a América do Sul.