O uso que o eleitor faz da intuição ao elaborar seu julgamento político: o processamento do cenário e da propaganda negativa em disputa presidencial
A teoria da racionalidade, que argumenta que o eleitor age adequando meios a fins, foi preponderante na análise de comportamento eleitoral nas décadas de 90 e 2000. No entanto, o seu alcance vem sendo questionada. Popkin (1994) alertou que o eleitor não funcionaria como um estatístico e que havia espaço para pensamentos mais intuitivos. Embutido nessa dicotomia entre intuição e razão, Kahneman trouxe para a discussão os pensamentos “rápido e devagar”, categorizando características do tipo de sistema de pensar 1, intuitivo. Stoker, Hay e Barr (2015) chamaram a atenção para as consequências do uso do sistema de pensar 1 para o processo democrático e encontraram resultados que mostram que o sistema 1 tende a ser utilizado para acentuar negatividades na política. Este trabalho se insere nessa discussão teórica sobre o uso da intuição no julgamento político. O trabalho teve dois objetivos. O primeiro foi um desafio metodológico de sugerir uma definição de características do tipo de sistema de pensar 2, a fim de contribuir para o trabalho iniciado por Kahneman, que apresentou apenas as categorias do sistema de pensar 1. O segundo objetivo foi aplicar as categorizações às falas do cidadão comum para verificar que sistemas utiliza na elaboração de seu julgamento político de forma geral e mediante a exposição de propagandas negativas. Para cumprir os objetivos, foram analisadas e categorizadas as anotações das falas de quatro grupos focais sobre a disputa presidencial no Brasil em 2014. Esse ano já trazia a polarização que foi potencializada com o processo do impeachment da Presidente Dilma em 2016 e com a eleição de 2018, que elegeu o Presidente Bolsonaro. Estudos anteriores mostram a importância da propaganda negativa nessa disputa de 2014, o que veio se fortalecer em 2018. Os primeiros resultados se alinham a achados desta literatura da área da psicologia política, que associam o pensamento rápido à percepção negativa da política. As análises preliminares apontam que os participantes da pesquisa se demonstraram mais intuitivos, utilizaram mais o sistema 1 (62%), do que pensaram de forma mais onerosa ou adotando o sistema 2 (38%) ao elaborarem os seus julgamentos políticos.