O BRASIL NO ESPELHO DO MUNDO: DESIGUALDADES DE GÊNERO NA CIÊNCIA POLÍTICA DO NACIONAL AO GLOBAL

A definição de “periferia”, enquanto objeto de estudo, assumiu diferentes características ao longo dos anos. Nas abordagens sobre a ciência, grosso modo, o termo se refere a regiões geográficas que padecem de desvantagens políticas, econômicas e sociais, determinantes na constituição de um suposto atraso em desenvolvimento de instituições de ensino e em desfrute de autonomia intelectual. O presente trabalho pretende explorar a hipótese que, por ser um país periférico no sistema acadêmico mundial, o Brasil apresenta piores condições, em contraste com os lugares definidos como grandes centros, no que se refere à diversidade de gênero em espaços de produção e circulação de conhecimento em ciência política. O objetivo é situar os debates sobre desigualdades entre grupos sociais como um atributo relevante de observação crítica das comunidades científicas. Para tal, após uma breve reconstituição histórica do desenvolvimento da disciplina, a pesquisa mapeia o perfil de acadêmicos da área em três etapas. Em primeiro lugar, a partir de dados secundários sobre a composição das associações profissionais disponibilizados pela International Political Science Association (IPSA); em seguida, através da classificação dos docentes de todos os programas de pós-graduação brasileiros creditados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); por fim, mediante à comparação do contexto nacional com os centros de formação mais prestigiados globalmente. A centralidade da variável gênero como categoria analítica é justificada por dois motivos principais: por um lado, a literatura que tematiza a história da ciência política ou constrói balanços sobre seu estado atual praticamente ignora abordagens conjunturais sobre a participação de homens e mulheres, o que sugere que esta ênfase é uma importante contribuição ao campo. Por outro, o texto argumenta que a disciplina tem um papel significativo de intervenção pública, que é favorecido quando diferentes perfis de intelectuais podem emitir opiniões especializadas. O indício mais saliente desse segundo ponto é que os estudos feministas, majoritariamente elaborados por mulheres, acrescentaram concepções singulares à teoria política e às perspectivas empíricas dos fenômenos políticos.

Marcia Rangel Candido /Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj)