BRASIL: UMA VARIÁVEL DE PESO NA POLÍTICA EXTERNA ARGENTINA PARA OS EUA DURANTE O GOVERNO MENEM?

A presente pesquisa tem por objetivo identificar as influências da percepção argentina sobre o Brasil na definição da sua estratégia de política externa junto aos Estados Unidos durante o governo Menem (1989-1999). Busca-se, verificar a hipótese de que o, aqui denominado, “fator-Brasil” teve influência no processo decisório que levou a uma política externa caracterizada pelo alinhamento carnal com os Estados Unidos. Huntington (1999) deduz que, na lógica regional, o poder da superpotência é valorizado pelas potências regionais secundárias como um instrumento de constrangimento ao domínio de potências regionais primárias (HUNTINGTON, 1999, p.42). Aplicando a teoria de Huntington (1999), na realidade regional sul-americana, a Argentina, na qualidade de potência secundária, teria interesses que rivalizariam com os do Brasil. Segundo Russell e Tokatlian (2003), a estratégia de alinhamento aos EUA era uma lógica própria das segundas potências regionais, enquanto a estratégia do balancing era natural à primeira potência regional. Com o fim de atribuir maior enfoque prático à verificação da hipótese foram destacados dois episódios ilustrativos das principais divergências político-diplomáticas entre Brasil e Argentina dentro do marco temporal: i) obtenção do status de aliado especial extra-OTAN por parte da Argentina, em 1997, com consequente reação negativa por parte do Brasil; ii) oposição da Argentina ao pleito brasileiro por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, tema caro à diplomacia brasileira e que também suscitou reações negativas das autoridades argentinas. No âmbito do marco temporal, este trabalho destacará os anos de 1997 a 1999 quando as relações bilaterais entre Brasil e Argentina sofreram uma espécie de retração na década de 1990, com o aumento das desconfianças recíprocas. Para o Embaixador da Argentina no Brasil, Herrera Vegas, o ano de 1999 foi o mais difícil das relações bilaterais com a desvalorização do Real. Considerando que a política exterior é passível de ser abordada por três dimensões analíticas principais - a saber: político-diplomática, econômico-comercial e estratégico-militar - a área de concentração analisada aqui será a dimensão político-diplomática. Esta última auxiliará na verificação da eventual existência de rivalidade da Argentina com o Brasil, uma vez que envolve diretamente as autoridades políticas e diplomáticas presentes no processo de tomada de decisão de política externa.

Ariane Costa dos Santos /Universidade do Estado do Rio de Janeiro