Ser evangélico importa? Uma análise longitudinal do partidarismo dos parlamentares do PSC e PRB na Câmara dos Deputados (2003 até 2013)

Na América Latina, partidos políticos com origens sindicais e/ou ligados à movimentos sociais tendem a apresentar níveis mais elevados de disciplina parlamentar (Mainwaring, 1990, 1997; Mainwaring e Pérez-Liñan, 2007; Ames e Power, 2007). O crescimento da participação de religiosos evangélicos na política brasileira é um fenômeno relativamente recente e ainda pouco explorado. Nota-se o aumento do protagonismo político desses cristãos, em especial, na Câmara dos Deputados. Embora o discurso de alguns desses políticos seja de uma participação voltada para os preceitos cristãos desses religiosos, pouco se sabe sobre a atuação efetiva deles no processo legislativo e a relação destes com seus respectivos partidos políticos. No Brasil, duas agremiações têm fortes ligações com igrejas evangélicas: O PRB, relacionado com a Igreja Universal do Reino de Deus; e o PSC, com a Igreja Assembleia de Deus. O objetivo deste artigo é analisar a dependência dos parlamentares evangélicos com relação a essas agremiações. A hipótese principal é que os deputados evangélicos do PRB e PSC por auferirem recursos – simbólicos e materiais - muitas vezes ligados diretamente com as denominações evangélicas são mais dependentes eleitoralmente de suas agremiações, principalmente quando comparados aos demais parlamentares. Por consequência, esses deputados também seriam mais “partidários”, ou seja, disciplinados, obedecendo as orientações das lideranças partidárias nas votações nominais em relação aos demais partidos (linha política do partido). O artigo combina duas abordagens metodológicas. A primeira via análise comparativa dos níveis de disciplina parlamentar do PRB e PSC em relação aos demais partidos brasileiros (2003-2013 – Banco do CEBRAP). A segunda, no nível individual, através da comparação longitudinal de surveys com parlamentares brasileiros no período entre 2003 e 2013 (Power e Zucco, 2013). As primeiras evidências corroboram as hipóteses apresentadas, principalmente no caso do PRB.

Priscilla Leine Cassotta /Universidade Federal de São Paulo
Luís Gustavo Bruno Locatelli /EAESP - FGV