Engajamentos e desengajamentos nas lutas contra as remoções do Rio de Janeiro a Cidado de Cabo
Esta comunicação propõe analisar as diversas facetas do engajamento individual dentro dos movimentos sociais constituídos por moradores de bairros populares no Rio de Janeiro (Brasil) e na Cidade do Cabo (África do Sul). Unidos na ação coletiva, os moradores se organizam para lutar contra processos de remoções ou gentrificação que provocam a sua relegação na periferia do espaço urbano. O estudo comparativo se baseia sobre a análise de dois movimentos sociais: Viva a Vila Autódromo na favela Vila Autódromo no Rio de Janeiro e Reclaim the City, em Woodstock, antigo bairro industrial da Cidade do Cabo. Os movimentos sociais não são grupos homogêneos e unitários (Melucci, 1996), mas são compostos por indivíduos que participam do grupo com diferentes graus de intensidade. Para entender a participação individual, centraremos nossa atenção sobre os engajamentos diferenciados dentro dos movimentos e tentaremos responder a seguinte pergunta: quais são as lógicas da permanência ou da retirada dos movimentos sociais de bairro? Este trabalho deixa de lado a questão do recrutamento dos ativistas que já foi amplamente tratada pela sociologia política. Para responder a essa pergunta, estabeleço uma tipologia que desenvolverei na apresentação final: - O engajamento estável e a largo prazo com uma participação ativa dos moradores. - O engajamento distanciado com uma participação débil e pragmática. Pode ser estável ou levar ao desengajamento. - O desengajamento manifestado por estratégias de retirada e mais tarde pela saída do bairro. Através de uma análise das trajetórias sociais dos moradores dos dois bairros e das suas percepções do contexto político e da repressão, tentaremos entender porque optam por um determinado tipo de atitude. Observaremos que a concorrência entre esferas de vida (especialmente a do trabalho e da família) e as interações com o seu ambiente social podem influenciar fortemente no ativismo. As etnografias realizadas nos dois bairros - em 2015 no Rio de Janeiro e 2018 na Cidade do Cabo - permitiram dar conta das interações sociais dentro das famílias e entre moradores bem como dos diversos protagonismos dos mesmos no cotidiano da luta social. As entrevistas revelaram os motivos mais subjetivos e privados do engajamento individual.