Os direitos humanos sob a perspectiva do Sul: a ascensão de uma contra-hegemonia revisionista do universal?
A política internacional de direitos humanos reflete a forma como o poder está distribuído e balanceado no mundo, indicando uma intrínseca relação entre os direitos humanos e o poder no sistema internacional e o uso indevido desse poder. A partir dessa compreensão, é possível delinear uma análise sobre como o Sul incide na agenda de direitos humanos internacional, objetivando minimizar a (hiper) politização praticada pelo Norte. Parte-se do pressuposto de que os países do Sul, imersos em uma multiplicidade de valores e questões distintos daqueles que concernem aos países do Norte, buscariam propagar uma revisão das regras universais hegemônicas no contexto do Conselho de Direitos Humanos da ONU, enaltecendo uma visão contra- hegemônica dos direitos humanos no âmbito internacional, em resistência à visão hegemônica do Norte, centralizada nos direitos civis e políticos e na blindagem política de casos de violação de parceiros políticos. As dinâmicas dessa contra-hegemonia serão analisadas a partir de exemplos de três visões do Sul: a sul-americana, a africana e a islâmica. Serão tratadas as características de cada uma delas, analisando as construções de suas respectivas visões, similaridades e diferenças discursivas e a influência delas no âmbito normativo da CDH. Esse último tópico se concentrará na verificação de votações de casos de violação aos direitos humanos tratados pelo Conselho, juntamente com construção de resoluções no campo dos direitos sociais, econômicos e culturais, em temas controversos, como os relativos a gênero. Compreende-se que no âmbito dos direitos de segunda geração, a voz contra-hegemônica do Sul ascenderia o questionamento a respeito da superposição do cosmopolitismo liberal hegemônico e da politização do Norte.