Conversação política online: uma análise das discussões sobre “ideologia de gênero” na fanpage do presidente brasileiro Jair Bolsonaro
Em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a presidência do Brasil prometendo, em meio a outros compromissos estabelecidos em seu discurso de posse, combater a chamada “ideologia de gênero”. Eleito com cerca de 55% dos votos válidos, o governante apenas reiterou o posicionamento que foi um dos alicerces de sua campanha e de sua vida política de maneira geral: a crítica à possibilidade de discussão sobre gênero e sexualidade, principalmente nas escolas. Sua abordagem conservadora da questão tem servido de estímulo para diferentes manifestações nas redes sociais na internet, tornando-se matéria de conversações políticas desenvolvidas nesse ambiente online. Proveniente da corrente habermasiana de estudos sobre deliberação, a conversação política cotidiana assume um papel significativo na discussão sobre assuntos públicos. Ela possibilita que os cidadãos exponham seus pontos de vista, compreendam suas realidades e desenvolvam suas capacidades argumentativas (MARQUES E MAIA, 2010; MANSBRIDGE, 1999) em espaços que não visam a deliberação nos moldes formais (MENDONÇA, SAMPAIO E BARROS, 2016). Diante do contexto e base teórica expostos, este trabalho apresenta um estudo exploratório das conversações políticas sobre “ideologia de gênero” surgidas no site Facebook. Seu objeto empírico são os comentários presentes em postagens sobre o assunto, publicadas pela fanpage de Bolsonaro. Ao todo, foram encontradas dezessete publicações, que vão de 2014 – quando ele era deputado federal pelo Rio de Janeiro – até 2018 – já em fase de campanha presidencial –, formando um corpus de 59.911 comentários. Como objetivos específicos, o artigo pretende: (1) descobrir quais são as características dessas conversações políticas online, observando as estratégias comunicacionais utilizadas nos comentários; e (2) reconhecer os termos mais usados pelos comentadores, identificando as formas com que tais palavras se articulam. A parte metodológica divide-se em duas etapas: primeiramente, é feita uma análise de conteúdo automatizada do corpus total (CERVI, 2019). Em seguida, com uma análise de conteúdo clássica (BAUER, 2007) aplicada a uma amostra de 382 comentários, observa-se qualitativamente o material. Resultados prévios apontam para a alta associação entre os termos “Bolsonaro” e “presidente”, mesmo nos anos que antecederam o pleito, e para um baixo engajamento dos indivíduos em debates com outros comentadores.