A espacialidade transnacional e as articulações do Los Zetas na Guatemala (2008-2015): uma contribuição de investigação pelas assemblages

As literaturas acadêmicas sobre criminalidade transnacional nas Relações Internacionais ainda não possuem a devida atenção à complexidade do termo transnacional, que elas levam no nome. O crime e grupos criminosos são explicados como atuando numa espacialidade transnacional, mas pouca atenção foi dada a como essa espacialidade é criada pelos diversos atores heterogêneos que se relacionam nesse espaço. Além disso, outra questão sem atenção é que esses atores, que estão ligados numa articulação transnacional, têm objetivos mutáveis e específicos, podendo mudar as articulações de acordo com o contexto, fazendo com que novas articulações sejam feitas, enfraquecendo umas e fortalecendo outras. Reconhecendo essas lacunas, e a importância que elas têm, o objetivo do artigo é melhor explicar essas complexidades: como os elementos heterogêneos constroem a espacialidade transnacional e como que diferentes contextos mudam as relações e articulações, mas mantendo a espacialidade transnacional. Para isso, será utilizado o caso do grupo criminoso mexicano, Los Zetas, e sua expansão, entre 2008 e 2015, para explicar que os fluxos de ilícitos desse grupo foram através de articulações com diversos atores, desde o transporte do ilícito até sua distribuição, e essas articulações são essenciais para entender a criação da espacialidade transnacional, assim como o fortalecimento e enfraquecimento do próprio grupo dos Zetas posteriormente. O método de investigação será o conceito das assemblages, que além de não ser usado pelas literaturas mencionadas para grupos criminosos, oferece uma lente fundamental para essa nova escala espacial e de relações transnacionais, e também é uma contribuição essencial para o caso da expansão dos Zetas, explicando muito do funcionamento do grupo e de suas articulações. Por fim, fica o convite para uma maior atenção e esse tipo de método de investigação para estudar a criminalidade transnacional e para ampliar as discussões sobre segurança nas Relações Internacionais.

Leonardo Chilio Jordão /Pontifícia Universidade Católica de São Paulo