Política externa, soft power e audiovisual: a participação do Brasil na CAACI de de 2003 a 2017

O objetivo deste trabalho é demonstrar que o Brasil, ao ampliar sua participação na CAACI (Conferência de Autoridades Audiovisuais e Cinematográficas da Iberoamérica) de 2003 a 2017, assumiu uma estratégia de soft power, buscando protagonismo na integração regional do cinema e do audiovisual ibero-americano. De acordo com Nye (2004), o soft power é a categoria de poder cujos recursos emanam da atração exercida por meio da cultura, dos valores políticos e das políticas externas de um país. A CAACI é um organismo multilateral fundado em 1989, com o objetivo de promover a integração entre as cinematografias ibero-americanas. Em 1998, no âmbito da CAACI, foi criado o Fundo Ibermedia, por meio do qual têm sido lançados editais de apoio à coprodução cinematográfica entre os países-membros do organismo, além de programas de capacitação e formação. Ao longo dos anos 1990, coube à Espanha o papel de liderança dentro da CAACI e do Ibermedia, que foi paulatinamente ocupado pelo Brasil desde meados dos anos 2000. Isto porque, a partir do Governo Lula, a política externa brasileira assumiu uma postura “ativa e altiva” (Amorim, 2015), buscando protagonismo no âmbito regional e proeminência internacional. O Brasil foi, originalmente, um dos países fundadores da CAACI e do Ibermedia, tendo sido inicialmente representado por seu Ministério das Relações Exteriores e mais adiante pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE). Ao longo dos anos de governos petistas, a atuação da ANCINE na CAACI se tornou gradualmente mais relevante, culminando na escolha do Diretor-Presidente da Agência para assumir a Secretaria Executiva do organismo multilateral entre os anos 2011 e 2017. Nesse período, os investimentos do país no Fundo Ibermedia foram incrementados e o número de coproduções com participação do Brasil cresceu de forma significativa, demonstrando o esforço do governo brasileiro em ampliar sua projeção regional/internacional no campo do audiovisual.

André Luiz Coelho Farias de Souza /Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Ana Julia Cury Cabral /Agencia Nacional do Cinema