A direita radical e a educação: uma análise do caso brasileiro

A educação é um dos principais terrenos de atuação da direita radical brasileira. Há nos discursos de integrantes do governo recentemente eleito e de importantes intelectuais do campo uma reiterada menção às transformações no campo da educação, representada como elemento prioritário da superação de uma suposta hegemonia do campo da esquerda. Esta hegemonia decorreria de um amplo e complexo estratagema de caráter internacional, inspirada por um “marxismo cultural gramsciano” e feição “globalista” que alcançaria mesmo lugares até pouco insuspeitos de ares comunistas, como a ONU. Todo esse esforço de elites esquerdistas teria como inimigo certa ideia de tradição nacional estruturada em torno do conceito de família. A maior inspiração desse discurso decorre de uma tradição de tintas conservadoras, que por abandonar o veio crítico ao mercado do conservadorismo mais tradicional pode ser definida como neoconservadora, já que concilia uma crítica às consequências culturais da modernidade, como todas as transformações no campo dos costumes, com uma adesão à modernidade econômica (HABERMAS, 2015). Tal conceito de ordem reivindica certa tradição cristã ocidental e vê uma sociedade construída a partir do conceito de família. Sua ideia de nação não surge contra a dimensão patriarcal, mas a partir dela. Por isso tanta preocupação com a questão da “ideologia de gênero” (BIROLI, 2016), já que as pautas feministas e LGTBI colocam em questão as definições mais tradicionais de família, em regra construídas a partir de interpretações conservadoras da tradição cristã. A linguagem neoconservadora defende uma radical separação entre o Estado e a formação dos valores, mesmo os fundamentais para uma ordem republicana. em discurso onde a educação perde qualquer função de formação de cidadãos e construção dos grandes debates públicos e passa a ser vista como transmissão de uma série de técnicas. O presente trabalho pretende analisar os discursos públicos do campo da direita radical sobre a educação, de modo a tanto explicitar seus pressupostos e influências como marcar distinções ante outros conceitos presentes no debate público. Para refletir sobre o tema, o artigo toma tais discursos como evidências do modelo educacional defendido no governo Bolsonaro e das suas concepções de sociedade e cidadania.

Jorge Chaloub /Universidade Federal de Juiz de Fora
Raquel Lima /UFF