Desigualdade, Exclusão e Violência na Representação Política Brasileira: padrões e mudanças entre 2014 e 2018.
Na medida em que preconceitos de gênero, de raça e de orientação sexual ganham o debate público no Brasil, cresce a percepção do desafio democrático que significa a inclusão política da diversidade identitária. Contudo, o esforço dos excluídos, mulheres, negros, LGBTQI+, em acessar o espaço parlamentar é acompanhado de um grau de violência cada vez mais explícito, como demonstra o assassinato da vereadora Marielle Franco e o exílio do deputado Jean Wyllys. Esta pesquisa visa contribuir para a temática ao oferecer uma visão interseccional da desigualdade na política institucional e suas mudanças no período recente. O conceito de representação descritiva é utilizado como forma de aproximar a compreensão crítica da desigualdade de presença na política com o estudo dos processos políticos da democracia liberal. Sua aplicação visa avançar na apreensão substantiva do fenômeno da exclusão política, no sentido de expor seu grau de brutalidade. A metodologia quantitativa, trabalhando com dados eleitorais, censitários e fiscais, permite apresentar as permanências e mudanças na estrutura da desigualdade da representação descritiva na Câmara de Deputados do Brasil entre as eleições de 2014 e 2018. Demonstra-se que a estabilidade ou quase estabilidade dos padrões de desigualdade numa perspectiva de gênero, raça e orientação sexual foi acompanhada do aumento da exclusão quando observados critérios de classe (patrimônio, instrução e ocupação profissional). Ressalta-se que as formas tradicionalmente aceitas de mensurar a proporcionalidade das eleições, número de votos/número de cadeiras, não apenas mascaram a desigualdade de acesso à política como oferecem um argumento de validade cada vez mais frágil. Tal argumento, subjacente à democracia liberal, é a representação de opiniões e interesses materializados nos partidos políticos e seus programas. Nesse sentido, o avanço no debate interseccional e identitário em relação aos padrões de acesso à política institucional parece ser central na compreensão dos atuais desafios da democracia representativa. Em complemento à comunicação, será apresentado o trabalho artístico “Jogo do Acesso” (https://marinapolidoro.com/Jogo-do-Acesso), uma aplicação interativa que interpreta os graus de desigualdade política efetivamente constatados na pesquisa empírica na forma de um labirinto a ser percorrido para acessar ao parlamento.